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quarta-feira, 16 de março de 2011

Quer Teclar Comigo novamente? (6)




Capítulo 6 –

               

 Aline não estava morta. Fred mentira a Carlos. Estava viva, sã e salva. Porém, ela escondia segredos...
                Ela não era necessariamente a vítima de tudo aquilo que acontecera. Na verdade, nunca fora. Seus planos estavam dando certo – com exceção das prisões de Marcos e Fred, além da morte de Éric. Mas não importava. Ela tinha um alguém que poderia ajudá-la. Poderia, e ia:
                Lucas, o inocente garoto que chegara da Europa sem mais nem menos. Na verdade, também não era tão inocente... Aprendera com seu tio Marcos técnicas de cirurgia quando era mais jovem. Queria se tornar um grande médico, assim como seu tio foi – antes de se tornar um psicopata. Seria ele o homem que ajudaria Aline a obter a salvação de sua vida.
                Aline sofria de uma insuficiência cardíaca e necessitava de um transplante de coração urgentemente. Os hospitais públicos e particulares ofereciam, sim, essa cirurgia. Mas o tempo de espera era tão longo que os pacientes já poderiam aguardar pela morte, que era certa.
                A solução mais fácil e rápida era violar a lei: Procurar um coração bom e saudável entre milhares de pessoas aglomeradas em um só lugar. Pessoas inocentes, bobas, que colocavam suas vidas em risco, confiando em estranhos que nunca viram, conheceram... Através da Internet.
                Orkut, Messenger, Facebook, Bate-Papo Redes sociais repleta de pessoas buscando amizades, namoros, sexo... Pessoas que não pensam nas conseqüências de seus atos, enviando a qualquer um que tenha uma bela foto endereços residenciais, telefones, celulares...
                Essas não merecem viver, Aline sempre dizia ao pegar uma isca pela internet. Decepcionava-se com as pessoas, mas, ao mesmo tempo, obtinha uma sensação boa, de esperança... Quem sabe agora ela poderia achar o coração perfeito para o seu corpo. Viver mais, intensamente, deixando de lado esse lado violento e cruel... Deixando de matar pessoas...
                Mas ela estava fazendo isso por motivos que achava justo. Estava salvando a sua vida, pois não queria morrer agora. Era muito cedo, a vida estava apenas começando. Ela queria viver mais, respirar mais, namorar mais, correr mais, criar mais amizades... E só haveria uma maneira disso acontecer: Um coração novo.
                ... E só haveria uma maneira de obter um coração novo: Arrancando-o das pessoas.
                ... E só haveria uma maneira de arrancá-lo das pessoas: Enganando-as.
                ... E só haveria uma maneira de enganá-las: Através da Internet.
                Perversa, sem piedade, sem alma. Assim era Aline Franco de Almeida: Um verdadeiro serial killer, que não pouparia vidas para salvar a própria.


                - Você foi uma grande amiga, Thalita – sussurrou Aline, enquanto observava as chamas da lareira queimar aquele saco preto onde, dentro, continham pedaços corporais de alguém, uma pessoa que ela conhecia, conhecia muito bem. Eram amigas inseparáveis. Eram como irmãs de carne e alma – Mas na vida é preciso fazer alguns sacrifícios para que tudo dê certo. Sinceramente, não queria que isso acontecesse com você... Mas eu precisava fazer isso... Pelo meu bem, por minha segurança... Eu sinto muito.
                Thalita. Uma grande amiga. Tivera que morrer para o sigilo dos segredos de Aline, já que o pai de sua amiga era um policial militar e as chances de ser desmascarada eram grandes.
                Thalita Letícia, que conhecera Aline no Rio de Janeiro, morrera sem saber por quê. Morrera silenciosamente, sem deixar vestígios, rastros...
                Mesmo sendo fria, Aline sentia remorso. Estava arrependida do que fizera. Ainda podia sentir aquele dia, sentir o sangue em suas mãos... O sangue de sua amiga escorrendo de seus braços... Ainda podia ver aqueles olhos abertos, arregalados, vidrados de uma inocente vítima... Aquela expressão de por que você fez isso?
                Aline ainda podia ouvir os últimos e baixos gemidos de Thalita antes de morrer... Seu coração apertou, ela teve aquela visão... Não queria relembrar...
                Mas relembrou:




                Aline estava assistindo a um filme de terror na casa de Thalita Letícia, localizada no subúrbio do Rio de Janeiro. Conhecera-a na nova escola em que se matriculou, pois se mudara há poucos dias de São Paulo, deixando sua outra melhor amiga: Thalita Andrade, que acabara de passar por momentos ruins.
                Diferente de Thalita Andrade, Thalita Letícia era mais alta, a pele branca e os cabelos loiros e os olhos azuis. Era como uma princesa. Aparentava não ser descendente do Brasil, mas, sim, de países da Europa.
                A garota ainda estava tentando se acostumar com a nova vida, a nova rotina... Mas estava feliz por obter uma nova amiga, ainda mais porque tinha o mesmo nome de sua melhor amiga de São Paulo. Ela e Thalita Letícia tinham a mesma idade – dezessete anos -.
                Enquanto comiam pipoca e visavam a T.V, as duas conversavam:
                -... E então, eu fiz várias amizades desde que você se mudara do Brasil – disse Aline, com a voz direcionada para sua amiga, mas os olhos direcionados ao filme – Aliás, Conheci uma garota em São Paulo com o mesmo nome que o seu.
                - Ah, é? – disse Thalita, sorrindo – Então você, certamente, se esqueceu de mim ao conhecê-la.
                - Eu não acredito que você está com ciúmes! – exclamou Aline, com carisma – Mudando de assunto... Eu estou namorando.
                Os olhos de Thalita se arregalaram e ela pasmou-se. Sorriu e se esqueceu do filme. Virou-se diretamente para a sua amiga e iniciou uma série de perguntas:
                - Mentira! Como ele é? De onde ele é? Quantos anos ele tem? Ele é bonito? Usa lentes de contato? (...)
                Aline soltou uma tremenda gargalhada, não suportando ouvir mais as perguntas de sua amiga histérica.
                - Chega de perguntas – ela disse – Agora eu vou dizer tudo para você, Thalita.
                Thalita engoliu em seco e se preparou.
                Então, Aline começou:
                - O nome dele é Lucas Oliveira, tem dezoito anos e mora na Itália. Ele tem a pele e os cabelos claros; usa lentes de contato verdes e é alto... Do jeitinho que eu gosto. Ele já veio ao Brasil algumas vezes me ver. Mas ninguém sabe que eu e ele estamos namorando.
                - Nossa, que gato! – Thalita disse num tom alto – Mas como vocês se conheceram?
                - Pela internet – ela respondeu – Através do Orkut. Mas ele é tão lindo... Diferente do primo dele: Fred.
                - Fred? – Thalita questionou. Não se lembrava daquele nome. Mas logo sua mente clareou – Ah... Espera. Você não está falando daquele Fred que estudava com você...?
                - Esse mesmo. Aquele nerd horroroso com quem estudei em São Paulo. Aquele que você achou bonito e ficou comentando em suas fotos do Orkut. Não sei o que você viu nele que gostou.
                - Eu amo nerds, Aline – Thalita disse, sorrindo e imaginando pequenas coisas perversas – Ah, eles são tão charmosos e bonitinhos. São fofos. Aqueles óculos, aquela timidez, a inteligência... Ai! São muito lindos!
                - Sei – sussurrou Aline, com desdém – Agora eu tenho que te avisar: Por favor, não conte a ninguém que eu estou namorando com ele. Ninguém pode saber, muito menos a Thalita que mora em São Paulo. Ela nem imagina que eu tenho um namorado. Nunca contei a ela... Só a você. Eu confio em você, amiga.
                Thalita sorriu. Aline podia perceber nos olhos de sua amiga a curiosidade. Com certeza, estaria se perguntando o porquê de não poder contar à ninguém sobre aquele relacionamento. Mas seus olhos também diziam que, aconteça o que acontecer, o segredo permaneceria oculto.
                - Eu prometo que não contarei à ninguém – Thalita disse e as duas se abraçaram, derramando as bacias de pipoca e sujando todo o sofá de veludo vermelho – Ah, que merda! – Thalita riu com um toque de constrangimento – Sujamos todo o sofá da minha mãe. Estamos fritas!
                Antes que Aline pudesse reagir às palavras de sua amiga, um terrível pensamento a tomou: Imagens em sua mente. Imagens fortes, assustadoras, das quais ela não queria enxergar. Mas não havia escapatória. Era a sua mente e seus olhos, mesmo fechados, assistiriam àquele macabro pesadelo.
                Vozes soando em seus ouvidos. Vozes conhecidas. Na verdade, uma voz conhecida: Era a voz de Lucas, que dizia sempre a mesma frase: “Não faça isso, Aline. Não à mate. Você não precisa fazer isso para se salvar...”
                Mas o seu cérebro contrariava aquelas palavras e, quanto mais a voz pedia para Aline não fazer tal ato, a vontade e a ânsia na garota aumentavam. Ela queria matar. Tinha que matar. Não sabia o porquê, mas tinha que fazê-lo o mais rápido possível.
                As imagens em sua mente continuavam a passar como um filme: Sangue, carnificina, órgãos...
                Sim, órgãos... Coração...
                Sim. Coração...
                Era o que ela precisava: Um novo coração. Sua doença já estava dando sinais e sintomas. O tempo estava acabando.
                Eu preciso fazer, ela pensou, Preciso fazer o mais rápido possível. Preciso de um coração novo. Eu tenho que encontrar logo. Thalita... Você é tão saudável, se cuida muito... Seu coração deve estar em boas, ótimas condições...
                De repente, um outro lado de sua mente a alertou: “Não faça isso! Vai se arrepender por toda a vida! Você não é uma assassina! Não se atreva a matar a sua própria amiga!”
                Mas, novamente, o cérebro de Aline contrariou e cada vez mais ela estava disposta a cometer aquele terrível ato, para o seu próprio bem.
                Isso não é um assassinato, ela voltou a dizer a si mesma, é uma salvação. A salvação da minha vida.
                Aline despertou com os chamados de Thalita.
                - Em quê você estava pensando, amiga? – Thalita perguntou, curiosa – Será que está pensando em sexo com o Lucas, He-he!
                Aline queria dizer algo. Realmente queria. Mas as palavras não estavam sendo encontradas. A única coisa que ela pôde dizer foi:
                - Thalita, eu vou pegar mais pipoca. Fique aqui e continue assistindo ao filme.
                Thalita assentiu, jogou algumas pipocas que estavam no sofá e acomodou-se para assistir.
                Segundos depois, Aline estava na cozinha. Estava parada entre a mesa e o armário. Não sabia o que estava fazendo ali. Observava aos arredores. Aparentava estar procurando algo – que, certamente, não era pipoca -.
                De repente, começou a vasculhar o armário: Abriu as pequenas portas do lado direito, onde se encontravam os pratos. Abriu as do lado esquerdo, onde estavam os copos... Não estava achando. Mesmo não sabendo o quê, ainda não o encontrara.
                Olhou mais abaixo e avistou três pequenas gavetas. Desta vez, seus movimentos foram mais cautelosos, mais lentos. Os olhares focados naquelas gavetas... Parecia saber o que haveria lá dentro, e lá dentro supostamente encontraria o que estava procurando.
                Abriu a primeira gaveta: Encontrou panos de prato dobrados igualmente.
                Abriu a segunda gaveta: Encontrou caixas de fósforo, velas e alguns sucos instantâneos.
                Abriu a terceira gaveta: Encontrou colheres, garfos, facas...
                Facas.
                Faca.
                Sim. Faca.
                Finalmente, Aline encontrara o que sua mente estava procurando. Uma faca bem grande, daquelas bem afiadas e prontas para cortar qualquer coisa, qualquer carne, qualquer animal, qualquer pessoa...
                Ela ergueu o objeto e pôde ver seu reflexo através do inox.
                Aline sorriu. Mas não um sorriso qualquer. Havia algo a mais naquela expressão torta. Algo incomum, não-humano, diabólico.
                Sim. Diabólico.
                Enquanto isso, Thalita assistia ao filme, comendo os restos de pipoca que sobraram na bacia. Estava calma, inteiramente ligada à TV. Num instante, ela percebeu a falta e a demora de Aline e logo gritou:
                - Aline, venha logo! O assassino está matando a vadia no lago Crystal Lake. Você está perdendo o melhor do filme!
                A garota encheu a boca de pipoca e, numa cena forte e aterrorizante em que o assassino apunhala a vítima, parou de mastigar. Ficou tensa e pasma com o que estava assistindo.
                De repente, Aline surgiu por trás do sofá e passou a faca sobre o pescoço de Thalita, cortando-o, fazendo o sangue escorrer como se fosse uma fonte de líquido vermelha. Os olhos da garota se arregalaram e a pipoca ficou entalada na garganta. A tremedeira era inevitável, mas Aline segurava o corpo dela, para que não se mexesse tanto.
                O sangue desceu ao sofá vermelho, misturando-se com a mesma cor. Enquanto o assassino do filme apunhalava a mulher, Aline esperava a morte de sua “amiga”.
                O corpo de Thalita amoleceu. Os olhos já estavam ficando vidrados, a pipoca ficara presa na boca...
                Thalita estava morrendo.
                Antes que Aline deixasse que isso acontecesse, sua mente a alertou: “Ela não pode morrer agora! O coração ainda tem que estar batendo! Não deixe-a  morrer!”
                Rapidamente, Aline ficou de frente para Thalita e, num ato de desespero, começou a apunhalá-la com toda a sua força, mas sem afetar o coração.
                Buracos estavam sendo abertos na barriga da garota e, em seguida, as partes interiores começavam a aparecer.
                Aline enfiou as mãos por dentro do corpo e vasculhou, remexeu... Mas não encontrou. Retirou os braços sangrentos afora e, sobressaltada, apunhalou o peito de Thalita, afetando diretamente o coração.
                - Droga! Porra! Eu não sei fazer isso! Não sei!
                O corpo de Thalita era idêntico a um ventríloquo. Estava sem expressão, os olhos vidrados e arregalados, a boca semi-aberta...
                Estava morta.
                Rapidamente, Aline discou oito números e elevou o celular ao ouvido direito.
                - Alô? – perguntou uma voz – Aline?
                - Sim, sou eu! Eu matei! Eu a matei, Fred! Eu a matei! Não consegui. Não sabia como retirar o coração... Eu a matei! Eu matei a minha amiga!
                - Sua idiota! Eu disse para não matá-la! Era para seqüestrá-la e eu faria a cirurgia!
                - E agora? E agora? E agora, o que eu faço?!
                - Eu estou indo à casa de Thalita Andrade. Você quer que eu a seqüestre? Ela parece saudável. Acho que tem um coração bom para você.
                 - Você pode fazer isso? Pode?
                - Posso. Agora dê um fim nesse corpo. Queime-o. Venha para São Paulo e vamos fazer o transplante em seu coração.
                Aline se acalmou.
                - Obrigada – disse ela – Obrigada Fred. Está salvando a minha vida.
                - É para isso que matamos pessoas – disse ele, friamente -... Para salvar outras. Mas não conte a ninguém sobre isso. Sabe que estamos violando a lei.
                 - Sim, está bem. Eu não disse nada a ninguém, e também não vou dizer. Eu vou para São Paulo agora mesmo. Vou pegar um taxi e chegarei aí o mais rápido possível.
                - Tudo bem. Agora vou desligar. Acabei de matar a Jéssica. Agora vou à casa ao lado, da Thalita.
                Antes que Aline pudesse dizer algo, Fred desligou o celular.
                Aline ficou observando aquele corpo jogado no sofá, pensando no que faria com ele... Sua expressão não estava mais triste, desesperada... Agora estava fria, pálida... Um olhar branco e assustador.
                O que ela estaria pensando?





                Após essas terríveis lembranças sobre a morte de Thalita Letícia, Aline levantou-se e foi para o quarto, deixando a lareira queimar os restos mortais de sua falecida amiga, que morrera em vão...
                Mas Aline prometera a si mesmo que ninguém mais morreria. Ela já tinha a pessoa ideal para doar-lhe o coração – independente de sua vontade -. Essa pessoa fora sua amiga por muitos e muitos anos.
                Essa pessoa estava ali, naquele lugar.
                Seu nome era:
                Thalita Andrade...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quer Teclar Comigo Novamente? (5)



Capitulo 5 –

                O ofegar de Lucas não era de alguma enfermidade, mas, sim, de medo e remorso. Ele não deveria. Não deveria ter feito aquilo.
                Certamente não deveria.
                Mas o que eu fiz?, sua mente questionou enquanto ele abaixava a cabeça, fechando os olhos. Queria chorar. Estava arrependido do que fizera, mas não podia voltar atrás. Tudo aquilo era para o bem dela. E ninguém o impediria de salvá-la – nem que ele tivesse  de matar, ou planejar uma morte, como fizera com Roberto: Um grande amigo seu, de infância... Pobre Roberto, ele pensou arrependido. Mas arrependimento não a salvaria. Somente uma coisa a salvaria, e ele sabia o que era...
                Coração, sua mente sibilou e ele assentiu: Um coração era tudo o que ela precisava.
                Lucas estava sentado sobre o colchão macio envolvido por um forro rosa na cama. Aquele quarto tão pequeno, estreito, mas espaçoso... Tão sujo, com paredes mofadas, a tinta embranquecida descascando-se, o teto úmido, um guarda-roupa branco e velho do lado direito. Um quarto muito velho, mas seguro... Não parecia um quarto. Mas era, e fazia parte de uma pequena casa – na verdade, um esconderijo... Esconderijo esse onde polícia alguma jamais encontraria. Onde qualquer assassino pudesse refugiar-se... Assassino...
                Assassino?, refletiu Lucas  com vertigem. Os olhos vidrados e a aparência pálida, amedrontada. Não. Eu não sou um assassino. NÃO SOU UM ASSASSINO!
                - NÃO SOU ASSASSINO! – sua voz explodiu e ele babou, cuspindo com as palavras ditas fortemente. Ele levantou-se da cama, elevou as mãos à cabeça e olhou para o teto – Não sou, não sou... Não posso ser...
                Por fim, ele se desmanchou em lágrimas.
                Tombou ao chão e chorou como uma criança mimada. O suor misturava-se com as lágrimas salientes. A expressão de medo, de espanto, de pavor tomava sua face. Ela não poderia vê-lo daquela maneira. Não poderia.
                Mas viu.
                A porta do quarto se abriu devagar. As mãos tocando a madeira do objeto e a cabeça surgindo adentro. Aquele rosto... Um rosto moreno-claro, os cabelos lisos e escuros artificialmente, longos e macios. Os olhos, aqueles olhos... Tão claros e belos com um castanho-claro colorindo-os suavemente...
                “Tão linda”, Lucas sempre dizia isso ao vê-la, seja em fotografia ou frente a frente.
                E ele estava inteiramente certo: Ela era linda, com um rosto inocente e angelical. Quem a visse jamais suspeitaria que ela fosse tão diabólica e malvada quanto qualquer serial killer. Assim são os verdadeiros assassinos: Calmos, inocentes, seguros, despertam confiança nas pessoas... Até que elas se tornem suas vítimas fatais.
                - Lucas? – ela disse num tom suave, mas preocupante – O que aconteceu?
                Rapidamente, ele levantou-se do chão e ergueu a cabeça. Enxugou as lágrimas e deu um sorriso fingido.
                - Não... Nada... Está tudo bem – ele disse ainda trêmulo – Eu a estava esperando.
                - Tem certeza? – ela perguntou por educação, pois já sabia que não estava tudo bem. E sabia o que ele realmente estava sentindo.
                - Tenho... Tenho – ele tentava enganá-la com seu sorriso torto, mas também sabia que ela já estava ciente do que ele sentia. Ela o conhecia muito bem. Até demais -... E então, onde está o corpo do... Roberto? Eu pensei que ainda estaria aqui neste quarto quando o mataram.
                - Não se preocupe – ela disse num tom calmo, tentando confortá-lo. Mas, só de saber que seu grande amigo fora assassinado naquele local já era um motivo e tanto para deixá-lo aterrorizado. Ainda não estava acostumado com mortes e sangue em profusão bem de perto – Eu limpei o quarto e me livrei do corpo... O queimei na lareira. Não queria que o visse, pois eu sei que ainda não está acostumado com isso...
                Ela aproximou-se dele e tocou suavemente em seus ombros. E continuou:
                - Lucas, amor, você sabe que eu estou fazendo isso... Estou fazendo isso para me salvar... Você sabe do meu problema no coração e se eu não fizer logo esse transplante...
                Antes que terminasse, Lucas tocou seus lábios com o dedo e disse suavemente:
                - Não diga. Eu entendo muito bem. Eu só preciso de um... tempo. Eu vou me acostumar, mas espero que consigamos logo esse coração compatível com o seu. Mas, amor, sabe... Eu já disse muitas vezes, mas... Vou dizer de novo: Não seria melhor irmos a um hospital especializado, esperarmos na fila e...
                - Não vai dar tempo, Lucas – ela disse – Você sabe que não vai dar tempo. Está acabando... O tempo está acabando e, se me ama, estará comigo nessa. Você me ama, Lucas? Me ama acima de todas as coisas?
                Ele a encarou seriamente. Os olhos brilhantes nos dela. Não queria sorrir, mas sorriu.
                - Claro. Claro que sim – ele respondeu – Eu te amo. Te amo acima de todas as coisas... Ficarei contigo onde estiver, não importa o que aconteça... Se isso é o que você deseja, eu estarei nessa... Porque eu te amo.
                Após aquelas belas palavras soadas aos ouvidos da garota, eles se beijaram fervorosamente. As línguas entrelaçando, as respirações tensas e os gemidos de prazer e amor. Pouco a pouco, a garota o empurrava em direção a cama. A freqüência dos beijos aumentava: Os dois tombaram sobre a cama.
                Lucas riu.
                - Ah, como eu te amo... – ele disse num arfar, voltando a beijá-la.



                - Eu não a matei – Fred disse ao seu pai, enquanto os dois conversavam sentados em um dos bancos da prisão – Eu menti ao tenente. Ele não sabe de nada.
                - Ótimo – Marcos assentiu – Agora vamos torcer para que os policiais não encontrem o lugar onde ela está. E por falar em esconderijo, onde está a...
                Fred interrompeu:
                - Está à salva. Está bem escondida... Ela deve estar esperando contato.
                - Então está tudo certo – Marcos disse num sorriso torto – Lucas já deve estar aqui. Vai operá-la como ensinamos e ela estará a salvo.
                - Eu sei pai. Eu sei...



                Uma estrada de terra e buracos onde nenhum carro conseguiria passar. As enormes árvores daquela pacata floresta camuflavam e escondiam aquela pequena casa de reboco totalmente envelhecida, aparentando estar abandonada. Mas não estava.
                Dentro daquele lugar, um ambiente normal de um lar: Mesas, algumas cadeiras, televisor, mesa de operação, monitor cardíaco... Artefatos de cirurgia...
                Não era um lar tão comum assim...
                Diante da mesa de madeira, um notebook com um mini-modem plugado. No monitor, uma janela da internet aberta mostrava um site de bate-papo...
                Há poucos metros da mesa, uma lareira acesa. As chamas queimando os galhos que ali estavam sendo jogados.
                De repente, alguém atirou um saco preto com algo na lareira... Algo, um corpo...
                - Adeus, Thalita – a voz dizia suavemente, mas com tons de remorso – Me desculpe...
                De repente, uma mão tocou os ombros daquela pessoa: Era Lucas, segurando uma bebida quente e oferecendo-a à garota que se esquentava perto do fogo.
                - Tome – ele ofereceu a bebida – Você precisa beber um pouco.
                - Obrigada – ela pegou o copo, mas, antes de beber, foi interrompida pelo tocar do seu celular.
                - Quem será? – Lucas perguntou.
                - Minha mãe – a garota respondeu-lhe ao ver no identificador de chamadas. Ela atendeu: - Oi mãe.
                - Oi filha – disse a voz do outro lado – O que aconteceu? Não retornou minhas ligações, não respondeu minhas mensagens... Onde está? Estava preocupada. Mas não vai voltar para o Rio de Janeiro?
                - Por enquanto não, mãe – ela respondeu – Vou passar um tempinho aqui em São Paulo. Além disso, consegui um emprego.
                Lucas riu num tom baixo ao ouvir a palavra emprego.
                - Ah, é verdade? – a mãe da garota disse com felicidade – Que bom, filha! E do quê você está trabalhando?
                Com uma mão segurando o celular e a outra teclando e enviando uma mensagem à sala de bate-papo na internet, Aline respondeu:
                - Nem queira saber.

sábado, 5 de março de 2011

Saudações Amigos!

Semana de pura alegria e agitação, não? É Carnaval e todas as emissoras de T.V e as páginas da Internet estão interligadas a esse evento. Eu, particularmente não sou muito chegado a essas coisas, mas como a maioria gosta eu sou obrigado a assistir os noticiários sobre essa tradição Brasileira...

Eu só passei aqui para desejar aos amantes de Carnaval um: Feliz Carnaval - e aos que odeiam esse evento: Bons sonhos, pois sei que estarão dormindo enquanto as belas musas estiverem desfilando semi-nuas pelas passarelas. Eu odeio Carnaval, mas adoro observá-las dançando no ritmo da música rsrs...

Mas então, estão gostando da seqüência de "Quer Teclar Comigo?" Eu espero que sim. Na verdade, tenho certeza de que estão gostando, pois os comentários são todos positivos - a não ser que vocês sejam falsos e estejam mentindo para mim... Mas sei que não estão mentindo. Se estivesse ruim, vocês certamente diriam. Eu confio em vocês.

Para os que leram o último capítulo, perceberam que há algumas escritas inadequadas para menores. Acho que no terror isso é bastante necessário. Imagine um momento tão prazeroso em que você está passando e, de repente, esse momento é cortado violentamente... Isso é terror, pelo menos eu acho...

Bom, fiquem atentos e continuem lendo os próximos capítulos que hei de postar aqui no Blog. Muitas coisas ainda vão acontecer neste conto. Espero que vocês tenham paciência de lê-lo até o último capítulo rsrs.

Obrigado à todos! O Blog cresceu e já temos 60 seguidores! É inacreditável! 


Também quero agradecer pela maneira como vocês tratam os meus textos. Recebo elogios diariamente. Muitos estão dizendo que minha maneira de escrever é bacana e eu fico inteiramente feliz com isso. É um sonho que, aos poucos, está sendo realizado. Tudo graças à vocês!

Bom, por hoje é só. Muito obrigado por tudo e um ótimo Carnaval à todos!

Abraços e let's go!


Valdir Luciano.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Quer Teclar Comigo Novamente? (4)

Atenção: Este capítulo contém escritas não-censuradas e inadequadas para menores. Portanto, a leitura ficará ao seu critério.


Capítulo 4:

                Os dedos tocavam freneticamente à mesa, como se estivessem pressionando as teclas de um piano. Os olhos vidrados fitavam o ponteiro do relógio girar completos trezentos e sessenta graus lentamente, sem pressa, emitindo o som torturante do tictac. O suor escorria da testa como gotas de água escorrendo de uma geleira prestes a derreter. A respiração era cada vez mais difícil, pois o ventilador estava desligado e Carlos não o ligaria até que Fred lhe contasse toda a verdade. Do contrário, o garoto continuaria sendo vítima daquela tortura mental.
                - Estamos aqui há quase um dia e meio, garoto – Carlos disse calmo, mas é óbvio que já estava ficando cansado de tudo aquilo -. Será que você não percebe que já está condenado? Não se deu conta de que será preso? Que vai pagar por tudo o que fez? Agora, não seria melhor me dizer quem mais está envolvido nisso e onde estão os corpos de Thalita e Aline? Quer mesmo ir para a cadeia e deixar os seus outros ajudantes livres? – fez uma pausa, e perguntou de novo: - Quer mesmo fazer isso?
                Fred aparentava não dar atenção as palavras do tenente, mas na verdade ouvia tudo o que lhe dissera. E, de certa forma, concordava: Ele não podia deixar os outros livres enquanto ele estivesse preso. Seria uma injustiça no mundo do crime. Mas, mesmo que desejasse dizer toda a verdade ao policial, uma parte de sua mente não o deixava fazê-lo.
                Não se atreva a dizer a verdade a ele, sua mente o ameaçava. Você não vai dizer nada a ele. Nada. Nada! Se quiser, minta. Minta, invente qualquer coisa... Mas não diga a verdade. Você sabe que não pode dizer a verdade, pois ela o condenará! Lembre-se de que tudo isso é para o bem dela. Para o bem dela...
                Ele desviou seu olhar para Carlos, sorriu e disse:
                - Você pode me prender, Carlos... Pode me deixar aqui pra sempre, sem água, sem comida, sem nada... Mas você jamais saberá a verdade... Jamais.
                Carlos o encarou seriamente, com ódio, com raiva. Já estava completamente sem paciência e não suportaria ficar mais nenhum minuto dentro daquela maldita sala abafada, olhando para um assassino desgraçado e filho da puta que jamais se atreveria a contar-lhe a verdade.
                Ele virou-se para o relógio: Já passava das dez da noite. Estavam naquele enrolamento há quase dois dias e meio, sentados, encarando-se um ao outro. Em poucas vezes, Carlos se levantara para ir ao banheiro, ou comer um lanche – mas sempre deixando outro policial de guarda, para que o delinqüente não fugisse -, enquanto Fred não se movera dali. Agüentara firmemente aqueles dois longos dias sentado, urinando nas calças, bebendo da própria saliva – que já nem houvera mais em sua língua -, morrendo de calor e de fome. Estava exausto, cansado de tudo aquilo, mas não contou a verdade – e não contaria. Se possível, se fosse para continuar ali por mais dois dias, três, ou cinco, continuaria. Mas não diria uma só palavra da verdade. Não diria.
                - CHEGA! – Carlos exclamou, levantando-se bruscamente da cadeira, fazendo-a tombar para trás. Agarrou Fred pela gola da camisa e o deixou cara a cara com ele – Você vai para a prisão, filho da puta! Era isso que você queria, não é? Eu até pensei em lhe dar uma chance de se redimir, mas vejo que não há nada dentro dessa sua cabeça oca! Maldito... Era para você estar estudando agora, se formando, tornando-se um homem. Mas a única coisa que consigo enxergar em você é a maldade, a desgraça... Fico nauseado só de olhar pra você... Filho da puta!
                Ele atirou o garoto contra a parede e deu-lhe um pontapé na boca do estômago, fazendo-o agonizar e ofegar.
                - Quer um consolo? Quer um consolo, Fred? – disse, sorrindo sarcasticamente – A boa notícia é que não se sentirá um estranho atrás da jaula. Terá o seu maldito pai como companhia! – chutou-o novamente.
               

                O portão de grades escuro se abriu. Um dos guardas empurrou Fred adentro, junto dos outros presidiários que descansavam – mas alguns ainda agitados -. Fred observou o lugar, a escuridão que era aquele maldito calabouço. Frio, escuro, nojento... Aqueles malditos homens cheirando mal. Os ratos compartilhavam o lugar, caminhando tranquilamente e sem medo.
                Os olhos do garoto se encheram de ódio. Seus lábios tremeram e ele mordeu-os, fazendo-os sangrar. De repente, ouviu uma voz. Aquela voz...
                - Olá, filho – a voz vinha da escuridão e, pouco a pouco, os passos surgiam e, dentre as sombras da noite, um rosto conhecido apareceu.
                - Pai – Fred disse com vertigem e aspereza.
                Marcos sorriu numa expressão diabólica.
                O portão do calabouço se fechou num estrondo.



                Roberto podia ouvir a sua fraca respiração, mas ainda enxergava uma infinita escuridão. Foi quando abriu os olhos. Enxergou a forte luz branca sob um teto amarelado e cheio de rachaduras. Olhou em volta e percebeu que estava em cima de uma cama grande - de casal, por sinal -. Tentou se movimentar desesperadamente, assustado, mas estava acorrentado das mãos às pernas, preso por correntes grossas de ferro. Olhou em volta de seu corpo e percebeu que estava nu.
                O quarto era pequeno, mas espaçoso. Estava sujo, empoleirado. Havia um guarda-roupa branco e velho no canto direito da parede. Não havia janelas no lugar, apenas uma porta. Porta essa pelo qual uma mulher entrara.
                Ela também estava nua, mas usava uma máscara teatral dourada com um sorriso estampado e segurava um chicote de couro. Roberto a observou pálido, imóvel. Por um instante, esquecera que estava amarrado e apenas contemplava aquele corpo esculpido perfeitamente por anjos – ou demônios-. Observou a máscara em seu rosto e o chicote em suas mãos. Logo ele sorriu e, com uma mente perversamente erótica, disse:
                - Então é você... Diabinha...
                A mulher não dissera uma palavra. Apenas o contemplava com olhares negros e não se sabia se estava sorrindo ou não. Mas a máscara sorria. Era um sorriso forte, perverso, assustador...
                Roberto não se lembrava de como foi parar naquele lugar. Sua última lembrança era de estar esperando no exato local onde supostamente a encontraria. Mas ela demorara. E quando estava prestes a ir embora, alguém o surpreendeu por trás, colocando um lenço em suas narinas, fazendo-o aspirar aquele odor... E então ele desmaiou.
                Então foi isso, ele pensou, dando-se conta de tudo o que aconteceu, ela me seqüestrou... Hehe... Será que ela é mesmo uma Diabinha? Parece que sim...
                - Então, você me seqüestrou para que pudéssemos brincar a sós? – ele disse num tom pervertido – Você me assustou, gata. Pensei que ia morrer.
                - E você vai – a mulher disse num tom normal, sem emoção alguma -. Agora vamos brincar.
                Ela aproximou-se de Roberto, dando passos lentos e exóticos.
                - Isso gata, venha... – ele dizia quase ofegante. Estava inteiramente excitado e a mulher percebeu através daquela parte de seu corpo que estava ereto – Venha... Isso, venha... Vamos brincar.
                Ela subiu em seu corpo, que estava de costas para a cama, e sentou-se, deslizando suas mãos em seu peito. Roberto revirava os olhos e gemia. O prazer estava tomando todo o seu interior.
                A mulher esfregava-se sobre ele em uma fricção de vai e vem. Roberto fechava os olhos e imaginava tudo o quanto sua mente projetava eroticamente. Era um desejo que estava sendo saciado.
                - Está gostando? Está? – A mulher perguntava enquanto gemia e aumentava rapidamente a fricção com o homem.
                - Estou... Estou! – ele dizia quase tropeçando nas palavras, sem fôlego – Continua... Continua!
                Enquanto ele permanecia de olhos fechados, ela retirou uma tesoura de jardineiro debaixo dos lençóis da cama e colocou o objeto sexual de Roberto entre as lâminas...
                - Continua! – ele gritava de prazer. Seus olhos estavam fechados e ele mal sabia o que ela estava preparando para o Gran Finale.
                Antes que o homem pudesse chegar ao ponto máximo de seu prazer, ela, num ato repentino e impiedoso, fechou a tesoura com todas as forças, cortando de uma só vez o órgão genital de Roberto.
                - AAAAHHHH – ele gritou e agonizou em uma tremedeira corporal insustentável. O horror em seus olhos arregalados, cheios de veias avermelhadas mostrava o medo, a agonia, a dor que estava sentindo sobre aquela perda que nenhum homem desejaria ter.
                O órgão caiu por sobre seu estômago e o sangue espirrava da ferida, como se fosse um extintor. Seus braços e pernas se debatiam, ele babava e vomitava ao mesmo tempo. A mulher continuava sobre seu corpo e observava aquela agonia infernal. Aquele era seu prazer e ela ainda não havia terminado.
                Sendo manchada pelo sangue de Roberto, ela fechou a tesoura e, com a ponta para baixo, cravou-a no estômago do homem. Depois a retirou. Depois cravou-a novamente, e voltou a tirá-la... Cravou e retirou, cravou e retirou, cravou e retirou... Até que percebeu os olhos abertos e vidrados da vítima. As mãos e pernas parando de tremer. O silêncio tomando o lugar...
                Roberto estava morto.
                - Era isso que você deveria ter sentido quando estava transando com a Carine, seu filho da puta! – a mulher exclamou num tom odioso.
                Levantou-se da cama e saiu do quarto ainda nua, mas vestida ao sangue daquele que a traíra há algum tempo. Ela conseguiu. Tinha se vingado.
                Antes que fechasse a porta, olhou novamente para o corpo estendido e disse:
                - Eu deveria ter retirado os seus rins... Mas nem para isso você serviria mais...
                Ela fechou a porta.

terça-feira, 1 de março de 2011

Quer Teclar Comigo Novamente? (3)



Capítulo 3:

                
Quando Lucas Oliveira chegara ao Brasil não tinha ideia do que havia ocorrido com alguns de seus amigos e familiares. Fora à sua antiga casa e soube que seus pais haviam se mudado de São Paulo para outro Estado. Soube também dos terríveis assassinatos no qual seus primos (Fred e o falecido Éric) e seu tio (Marcos) estavam inteiramente e absolutamente envolvidos. Soube da trágica morte de Thalita, Aline e Carine pelo noticiário – que naqueles dias somente reportava assuntos relacionados a esses homicídios -. Também ficou sabendo de muitas outras mortes, como a de Cláudia, mas não ficou tão abalado quanto à morte de suas amigas. Estava triste. Pensava se fizera a coisa certa ao deixar seus outros tios na Itália para vir morar novamente ao seu país de origem e, cada vez mais, as respostas em sua mente eram negativas.
                Em quê eu fui me meter? – Sua mente questionava enquanto tomava um café, sentado diante do balcão de uma lanchonete da cidade. Tinha dinheiro para alugar um apartamento ou ficar num hotel por alguns dias. Mas esse não era o grande problema em que ele havia se metido.
                O problema era algo grande.
                Muito maior do que se imaginava.
                Seu celular tocou:
                - Alô – disse ele, num tom calmo. Por certo, já sabia quem era –... Sim, cheguei.
                - Então ainda fará aquilo? – perguntou a voz com quem estava falando. Parecia de mulher. Era de mulher e, aparentemente, não estava de bom humor – Droga, Lucas! Eu preciso disso o mais rápido possível! O tempo está acabando!
                - Eu vou fazer. Eu vou fazer, mas tenha calma! – ele disse num tom de desculpa. Tentava acalmá-la, mas logo percebeu que não conseguiria. As pessoas no local estranhavam seu comportamento de preocupação -... Eu prometo. Vou começar hoje à noite... Sim, eu o farei. Prometo.
                - Se me ama de verdade, então sei que fará – a mulher disse num tom carinhoso, de esperança. Ela sabia que ele faria aquilo. Aquilo, o quê?
                - Eu te amo. Veremos-nos em breve – disse e sua última palavra foi num tom despedida, desligando o aparelho.
                Eu não tenho escolha. Terei de fazer isso o mais rápido possível... Ou ela morrerá.
                Lucas tinha segredos. Ah, sim. Tinha muitos segredos. E estes haveriam de ser revelados com o tempo. O tempo curto que ele tinha para fazer aquilo.
                Tomou seu café morno em um só gole e saiu rapidamente da lanchonete: Ele tinha muitas coisas a fazer.
               


                 Enquanto caminhava pelo parque do Ibirapuera, em São Paulo, discava números em seu celular. Estava ligando para alguém, um amigo.
                O vento soprava não muito forte, mas o suficiente para refrescar aquele abafado calor da tarde. As pessoas deitavam sobre o verde gramado do parque, os ciclistas pedalavam e exercitavam-se, assim como os corredores batiam seus pés ao chão em uma correria física. Os cães se conheciam, colocando seus focinhos gelados uns aos outros, descobrindo novos cheiros e obtendo novas amizades – ou inimizades.
                Finalmente, o sujeito para quem estava ligando atendeu.
                - Alô? – a voz do outro lado perguntou.
                - Olá Roberto – disse Lucas – Sou eu: Lucas.
                - E aí, Lucas – Roberto o cumprimentou feliz – Tudo bom? E então, já está se acostumando novamente com o Brasil?
                - Sim, sim, estou – a voz de Lucas estava meio impaciente. Ele não estava com bom humor para uma conversa longa – E então, adicionou o contato que lhe passei?
                - O da garota? – disse – Claro. Adicionei agora a pouco. Mas acho que ela ainda não aceitou o convite. Mas então, ela é gostosa mesmo?
                Lucas riu.
                - Claro que é. Acha que eu mentiria para você? É muito boa. Bem safadinha. Você vai adorá-la.
                - Não diga isso agora, amigo – disse ele num tom pervertido -, eu já estou ficando louco aqui só de imaginá-la!
                - Melhor não imaginar, ela é bem melhor do que você pensa – Lucas disse, deixando seu companheiro totalmente entusiasmado –.  Agora, preciso desligar. Preciso ir a um lugar e acho que já estou atrasado.
                - Aonde você vai, Lucas? – perguntou Roberto, num tom de desconfiança.
                - Tchau – Lucas ignorou a pergunta de seu amigo e desligou o celular. Pensou por alguns segundos e disse com remorso: - Desculpe-me, amigo, mas tudo isso é para o bem dela.




                Em sua casa, Roberto Fernandes – dezessete anos, alto, magro, moreno-claro, olhos castanho-claros e um rosto oval – escutava um bom rock pesado, comendo puras besteiras: Um enorme sanduiche com tudo o que poderia se imaginar de comestível no meio; um refrigerante mega – um galão de coca-cola – e batatinhas murchas e oleosas. Ele literalmente estava fazendo a festa. Seus pais estavam, sim, mas na sala de estar – provavelmente assistindo a tele-novela da tarde e provavelmente não escutavam a bagunça no andar de cima -. Ele estava em seu quarto e, enquanto comia desesperadamente, deliciava-se com as belas fotos de garotas nuas em inúmeros sites pornográficos.  Seus olhos fitavam aquelas imagens e ele criava casos sexuais com aquelas mulheres em sua mente.
                Roberto ainda esperava por aquela garota ao qual Lucas havia mencionado e lhe passado o contato do MSN. E, mesmo que ela ainda não o tenha aceitado, ele esperava ansioso e esperançosamente por ela. Queria vê-la nua através do webcam. Queria vê-la fazendo danças sexuais a ele, mostrando lentamente e aos poucos todo o seu belo corpo. Ele se masturbaria com ela. Pensara em fazer coisas com ela que nem mesmo um ator pornô imaginaria fazer.
                Ele não saía de casa. Largara a escola há três anos e seus pais não lhe davam a menor atenção. Ficava trancado em seu quarto com o computador ligado o dia todo, tentando conseguir garotas nas salas de Bate-Papo para conversas através de webcams, no intuito de fazê-las ficarem despidas para seu prazer. Às vezes conseguia. Às vezes não.
                De repente, o Messenger alertou-o: “Diabinha” Acabou de entrar no Messenger.
                Seus olhos sobressaltaram e ele fitou aquela foto. Uma foto perfeita daquele contato: Uma mulher trajada de biquíni e sutiã, magra, o cabelo longo e escuro e a pele clara...
                Meu Deus, sua mente exclamou. O suor escorreu de sua testa, o seu coração deu pontadas em seu peito...
                Roberto estava totalmente excitado.
                Ele não reconheceu aquela pessoa e clicou na foto para iniciar uma conversa. Ainda contemplava veemente aquela imagem. Seus olhos não piscavam.
                Ele, então, começou:

Roberto: Olá, tudo bom? Desculpe-me, mas quem é você? Não me lembro de tê-la em meus contatos. :s

                A resposta demorou alguns segundos, mas veio:

Diabinha: Oi, estou muito bem. Não me conhece? Ué, mas você é o amigo do Lucas Oliveira, não é? Não foi você quem me adicionou?

                Logo a alegria o tomou. Então é ela, ele pensou e sorriu.

Roberto: Ah... Então é você a amiga do Lucas? Rsrsrs... Ele estava me enchendo o saco pra te adicionar. Disse que você era muito linda, e é verdade... >.<

Diabinha: Obrigada amor. Você também é muito lindo sabia? Mas e então, quantos anos você tem mesmo?

                A timidez o tomou. Ele não sabia quantos anos ela poderia ter e já estava cansado de saber que as garotas odiavam homens mais novos. Então resolveu mentir:

Roberto: Eu tenho vinte e um... E você?

Diabinha: Eu tenho dezenove. De onde tecla?

Roberto: Itaquaquecetuba, São Paulo, e você?

Diabinha: Arujá, São Paulo. Não é muito longe... rsrsr ;D

Roberto: É pertinho. Rsrsr

                Durante alguns segundos, ela não enviou mais mensagens e Lucas apenas esperava. A conversa tinha acabado. Ele não sabia mais o que escrever e, por certo, ela esperava que ele tivesse a iniciativa de puxar assunto.
                Ele pensou, pensou, pensou... Pensou bastante e, de repente, olhou novamente aquela foto e contemplou excitadamente: Gostosa, pensou. Novamente as imagens e fantasias sexuais surgiam em sua mente, agora com aquela garota incluída.
                Por fim, ele não resistiu e resolveu cantá-la de uma vez por todas. Seria difícil, claro. Era quase impossível uma garota daquelas acabar gostando de um meninão como ele, ainda mais quando ele tinha dezessete anos e ela nem, ao menos, imaginava isso. Mas tentar não custou nada a ele, e ele tentou:

Roberto: E então... Sabe, eu achei você muito linda mesmo. Até estou suando aqui... rsrs

Diabinha: kkkkkk... Nossa, eu sou tão bonita assim? :P

Roberto: Desculpe-me a maneira de dizer, mas... Você é GOSTOSA! (6)

Diabinha: kkkkkk... Nossa gato, assim você me deixa sem jeito... rsrsrs... Eu te achei muito gostoso também. Essa sua foto sem camisa me deixou... Ai! Nem dá pra falar direito... kkkkk

Roberto: Sério? Se quiser, eu posso te mostrar algo mais... Por que não liga a sua webcam e nos vemos... Depois te mostro uma coisa... ahsuahushashaushausa...

                A garota não respondeu por alguns instantes. Roberto teve receio de acabar magoando-a com aquelas palavras pervertidas. Porém...

Diabinha: Desculpe-me, gato. Eu não gosto muito de webcam. Eu prefiro mais na real. E já que moramos perto, por que não marcamos um encontro? Ai você poderia me mostrar algo seu e eu mostraria algo meu... (6)

                Roberto estava boquiaberto. Num instante, perdeu toda a timidez e receio de conversar com aquela garota abertamente. Ela está querendo transar comigo, pensou. E era verdade. As cantadas dela não mentiam: Ela queria transar com ele e, claro, ele não perderia essa chance.

Roberto: Claro. Claro! Vamos marcar. Mas onde poderíamos nos encontrar? Aqui em casa não dá, os meus pais moram aqui.

Diabinha: Sem problema! Os meus pais estão viajando e nem ligam quando vem gente em casa. Vou te passar o endereço e você vem aqui, ok?

Roberto: Ok.

                A garota passou-lhe o endereço e ele anotou. Estava realmente disposto a encontrá-la e saciar sua sede de sexo de uma vez por todas. Há tempos não transava com alguém, mas isso iria mudar...
               
Diabinha: Agora eu vou sair. Encontre-me amanhã neste endereço que lhe passei. Vou estar te esperando toda molhadinha... (6)

                Diabinha saiu do Messenger.
                Roberto sorriu e esperou ansiosamente que o dia de amanhã chegasse. Ele iria, nem que chovesse, nem que fizesse o mais forte e caloroso sol, nem que estivesse tão frio quanto na Antártida... Ele iria, mesmo que não soubesse exatamente quem ela era, pois seu desejo era maior que todos os temores. Mentiria aos pais. Diria que ia à casa de um amigo, mas na verdade veria uma desconhecida... Mas ele iria.
                Ele ia. Sim. Ele iria e satisfaria o seu desejo sexual com ela... A Diabinha.
                Diabinha. Um nome mau, mas não tão mau quanto a pessoa que se escondia por trás deste demoníaco apelido.