Estar aqui, diante dessa imensidão
azul, me faz enxergar o passado e presente em constante sincronia. O que eu já
fiz e o que estou fazendo são, respectivamente, a mesma coisa. E o que farei
amanhã, também.
O som que é entoado do mar, das
águas batendo nas rochas, vindo e levando os minúsculos grãos de areia, são
psicologicamente prazerosos. Não é excitante. Mas acalma as minhas veias, o meu
peito, o meu coração. E é nesse exato momento que eu percebo o significado de
ter uma alma.
A tristeza que antes sentia, já não
sinto. A angustia que me percorria todos os dias da minha vida, foram levadas
pelas águas fortes, dizimadas pelo sal e transformadas em pequenos grãos de
areia. Um pouco da minha história – triste – permaneceu ali.
Os meus dons. Eles voltaram. E eu
sinto vigor e vontade de exercê-los: Arranhar as cordas de um violino, entoando
melodias que fariam o meu próprio coração em carne chorar. Assoprar um dourado
saxofone e sentir a minha alma ser sugada através do instrumento e das notas tocadas.
E escrever.
Aquilo que me deixa vivo. O sentido
da minha vida. O meu futuro legado: Escrever. Falar comigo mesmo, através de
palavras que não são imaginadas, não são previstas... Apenas, escritas.
Você voltou.
Eu
voltei.
E
as algemas que prendiam as minhas mãos já não são mais capazes de me conter.
Porque eu voltei. E mais forte do que nunca. E o medo eu já não sinto. Já não
tenho.
Hoje, agora, posso me olhar no
espelho e ver quem realmente me tornei. Perdedor, não. Sonhador, talvez.
Guerreiro, com certeza.
Neste exato momento, o sol lá fora
está tão forte, o céu está tão azul e a brisa sopra em minha direção. Este é o
sentido de estar vivo. E ao escrever esta confissão, sinto-me mais do que vivo:
Sinto-me útil.
Eu não sou feliz, porque ninguém
realmente é. Mas sou como todos os outros que buscam a felicidade: Eu sou um
guerreiro.
Não sei se o meu final será feliz.
Se as pessoas se lembrarão da minha história. Se terminarei casado, ou
solteiro. Se estarei acompanhado, ou sozinho. Mas a certeza que tenho, neste
momento, é que eu estou vivo, e disposto a continuar vivendo.
Vivendo intensamente, através do meu
violino, do meu saxofone, dos meus amigos, da minha família, do meu grande amor
e das histórias que eu escrevo, e que continuarei a escrever...
Até o último dia.
Valdir Luciano, 13/09/2014
Balneário Gaivota – Itanhaém SP
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