Morte Demoníaca
Josh
abriu os olhos de repente: Um forte ruído havia ecoado sobre aquele pequeno e
abafado quarto de madeira, dentro da velha cabana perdida no meio da floresta
de Black Hills.
Seus olhos
enxergavam o teto mofado, prestes a despencar, enquanto sua mão esquerda
vasculhava aquilo que deveria estar ao seu lado, cobrindo a outra metade da
cama.
- Rose
– ele sussurrou, enquanto tentava tocar em seu corpo. Não queria acordá-la, mas
precisava ter a certeza de que ela estaria ali. Então, lentamente, ele girou
sua cabeça noventa graus para a esquerda:
Rose
havia sumido.
Incrédulo
do que estava presenciando, Josh inclinou seu corpo para cima e observou a
luminosidade afora através da janela fechada por grades de ferro: Ainda era
noite, o que o deixou completamente intrigado.
- Rose!
– agora ele exclamou com firmeza. Rapidamente, pensou nas possibilidades dela
ter se levantado para fazer suas necessidades, beber um copo d’água, ou escovar
os dentes. Mas ele estava claramente certo de que sua namorada não teria
coragem de sair da cama e caminhar sozinha em direção ao banheiro. Ele a
conhecia bem. Muito bem.
De
repente, uma leve e estranha brisa soprou ao redor do quarto. Ao mesmo tempo, o
som de papel fino ecoou aos ouvidos de Josh. Ao inclinar sua cabeça para o
chão, deparou-se com um velho livro aberto, cujas folhas dançavam da direita
para a esquerda através do vento.
- Mas
que porra é essa? – ele questionou em voz alta. Lembrou-se rapidamente daquele
livro. Porém, não se recordava de tê-lo trazido até o quarto. Antes de dormir,
o deixara em cima da mesa, na cozinha.
Seus
olhos encararam aquele livro. As folhas trocavam de página, uma a uma, movida
por uma força além de sua compreensão. Movida por algo, alguém...
O
coração de Josh começou a palpitar fortemente. O frio em seu estômago revelava
a insegurança, a desconfiança e o sentimento de medo que estava sentindo ao
olhar para aquele objeto jogado no chão. Ele não o havia lido, mas lembrou-se
da capa que estampava através de uma tinta vermelha, fresca... :
“ Invoque”
Outro
ruído ecoou aos seus ouvidos, desta vez vindo de fora do quarto.
Rose,
ele pensou e então caminhou rapidamente em direção a saída do local: Deparou-se
com a escura e pacata cozinha, onde havia apenas uma mesa de madeira com duas
cadeiras. A única claridade era a do luar, o que não era o suficiente para
iluminar a cabana. As velas expostas sobre a mesa estavam quase gastas. O medo
começou a tomar conta de Josh.
O homem
girou sua cabeça para a esquerda, deparando-se com um estreito e assustador
corredor. No final do mesmo, uma fraca luz refletia uma sombra que dançava
lentamente sobre as paredes do lugar.
Os
passos de Josh eram lentos. O ranger da madeira sendo pisoteada podia ser
ouvido, e cada vez mais a angustia daquele homem era evidente. Onde estaria sua
namorada? Que sons eram aqueles? Por que o livro estava jogado em seu quarto?
Eram
mais e mais questões sem qualquer resposta concreta. E quanto mais ele se
aproximava do destino, mais perguntas surgiam.
O vento
soprava incessante sobre a cabana. Os pés eram colocados um à frente do outro
em passos curtos, cautelosos. Logo, Josh estava no corredor e conseguia avistar
uma única porta semiaberta, de onde vinha a fraca luz.
Ao
aproximar-se do destino, Josh elevou sua mão direita em direção a fechadura:
Ele a empurrou e, de repente, deparou-se com a silhueta de um corpo parado em
pé, virado de frente para seus olhos. As vestes brancas cobriam aquela pessoa.
Os cabelos morenos e longos do ser estavam umedecidos pelo suor. A vela em suas
mãos estava prestes a se apagar.
Josh
suspirou. Seu coração quase saiu pela garganta. Aquela era Rose, sua namorada,
Finalmente, havia aparecido, mesmo que naquele estado.
- Rose,
o que aconteceu? Por que acordou no meio da noite?
A chama
da vela, de repente, dançou som o soprar de uma frisa brisa. Rose estava
calada, quieta, não tinha expressão no rosto.
- Rose!
– Josh exclamou, agora assustado pelo comportamento da garota.
Por
fim, ela respondeu em voz baixa, sussurrante:
- Eu...
Precisava... Eu Prec... Perdi o sono...
- Você
perdeu o sono? Mas como? Você estava morta de sono agora a pouco.
- Tive
pesadelos...
Josh
rapidamente lembrou-se do livro que haviam encontrado naquela cabana. Logo se
deu conta de que o motivo para ela estar acordada fora aquele maldito artefato,
cujas escritas a fizeram acordar.
- Eu
disse para você não ler aquele livro – ele resmungou – Eu não sei qual era o
gênero daquela merda, mas com certeza não era coisa boa... Não sei por que meu
pai resolveu deixar esse livro aqui, mas eu vou dar um fim nele. Agora, vamos
para a cama. Devemos dormir. Amanhã voltaremos para a cidade.
Josh
elevou suas mãos em direção a Rose. Porém, ao tocá-la, avistou os olhos
amarelados, tomados por um fúria, cujas veias circulavam nas pupilas.
De
repente, a vela se apagou.
- Deus!
– Josh gritou, pasmo. A escuridão caiu sobre aquele corredor – Rose, o que
houve?!
Silêncio.
A
respiração de Josh podia ser ouvida. Ele não queria falar, pois estava
esperando pela reação de sua namorada. Porém, ela permanecia dentro daquele
banheiro, quieta, silenciosa, estranha...
Ruídos.
Josh
começou a ouvir novos ruídos, vindo daquele banheiro, da direção de Rose. Eram
sons semelhantes a cortes, como se algo estivesse sendo raspado...
Desesperado,
o homem pegou o celular, acendeu a lanterna e mirou em direção à garota. No
mesmo instante, deu passos para trás.
O
sangue escorria das pernas de Rose, tocando o chão.
Os
cortes continuavam.
Os
olhos de Josh cintilaram e ele se apoiou na parede do corredor, incrédulo do
que estava presenciando:
As
afiadas navalhas eram cravadas sobre a vagina da garota, sendo repuxadas da
direita para esquerda, de cima para baixo. O líquido ferroso escorria em
profusão. O sorriso demoníaco estampado em Rose incomodava a quem olhasse: Um
sorriso forçado, furioso e ao mesmo tempo alegre...
-
Jesus... – Josh sussurrou, levantando-se e correndo em direção a saída da
cabana. Porém, ao tentar puxar a fechadura da porta da cozinha, percebeu que a
mesma estava trancafiada. Ele tentou procurar as chaves em seu bolso, mas não
as encontrou.
Olhou
para trás e avistou a silhueta demoníaca daquela que já não era mais a sua
namorada caminhando lentamente em sua direção.
-
Volte, amor. VAMOS TRANSAR! – a aberração disse, agora com uma voz grave e
distorcida – ME DEIXA SENTAR EM CIMA DO SEU PAU, SEU VIADINHO!
Por
onde a mulher passava, o caminho de sangue era criado.
Desesperado,
Josh começou a chutar a porta brutalmente, tentando arrombá-la para fugir
daquele inferno o mais depressa possível. A garota estava cada vez mais próxima
e ele já estava ficando sem opções.
De
repente, olhou para a janela ao lado da porta. Sem pensar, socou a vidraça da
mesma, fazendo os cacos de vidro rasgar suas mãos. Josh estava fazendo de tudo para
fugir, achar uma saída.
Ele
colocou as duas mãos para o lado de fora, através da janela, empurrando seu
corpo para frente. Porém, a mão da garota já o havia alcançado, puxando-o para
trás com uma força incontrolável, não humana: O homem caiu por sobre o chão,
enquanto Rose – já em aparência petrificada – sentou em seu colo forçadamente,
esfregando-se de forma sensual. O sangue manchava as vestes do homem, que
tentava se desprender. Porém, era impossível.
- ME
DEIXA SAIR, FILHA DA PUTA! ME SOLTA! – ele gritou, retorcendo-se bruscamente.
- AGORA
VOCÊ VAI LAMBER, AMOR!
De
repente, o corpo possuído levantou-se com movimentos semelhantes a de
marionetes, caminhou centímetros a frente. Josh conseguia enxergar a vagina da
garota sangrando em seu rosto. E então, o corpo sentou brutalmente em cima da
face do homem. O órgão sexual era esfregado impiedosamente entre a boca e o
nariz de Josh, fazendo-o engolir sangue.
-
LAMBE, FILHO DA PUTA! LAMBE! - o demônio
gritava, aparentando estar sentindo prazer.
Josh se
retorcia, agonizando, quase se sufocando. De repente, uma de suas mãos sentiu
tocar em um artefato jogado sobre o chão: Uma navalha – a mesma ao qual Rose
cortara a vagina -. Rapidamente, ele a cravou sobre o estômago da criatura,
fazendo-a cair.
Desesperado,
ele se levantou e, através de uma força que jamais imaginaria ter, arrombou a
porta da casa, saindo, deparando-se com uma extensa floresta tomada por um
nevoeiro típico de madrugada.
Ruídos
começaram a soar de dentro da cabana. Um estranho e irreconhecível linguajar
também podia ser ouvido.
Josh
começou a correr floresta afora, ansioso para encontrar uma saída. Enquanto
corria, lembrou-se de que deixara seu carro ao lado da cabana. Porém, era tarde
demais. Ele não voltaria àquele inferno. Ainda não conseguia entender como tudo
aquilo havia acontecido. O que mais estava concreto em sua mente era a
salvação: Sair vivo daquele lugar. O resto ele poderia deduzir depois.
A
floresta parecia não ter fim. Os galhos das árvores batiam em seu rosto, e ele
se sentia cada vez mais perdido. O nevoeiro parecia mais denso e o desespero
era evidente em seus olhos lacrimejantes.
Aos
poucos, Josh podia ver luzes enfileiradas, separadas por metros de distância.
Postes que sustentavam os fios de telefone e energia elétrica. A pista que cortava a mata...
O
alívio começou a florescer em seu peito. O arfar era de satisfação.
Ele
finalmente estava a salvo.
Ao
mesmo tempo, uma forte luz vinha em direção à pista, mirando em Josh: Era um
carro.
-
Graças a Deus – ele disse, arfando de felicidade.
Rapidamente,
foi para o meio da pista e fez o comum gesto de pedir carona.
O carro
correspondeu, parando e diminuindo a luz do farol.
Josh
aproximou-se do carro, sem pensar em pedir qualquer favor: Abriu a porta do
mesmo e adentrou, em total desespero.
- Por
favor, me tira daqui – ele disse, quase sem fôlego.
Não
houve resposta.
De
repente, Josh olhou para cima e avistou um chaveiro pendurado, dançando sob o
automóvel...
Um
chaveiro com um nome escrito:
“Josh”.
Aquele
era o seu carro.
Ao
mesmo tempo, as luzes dos postes começaram a se apagar, uma por uma, até que a
escuridão tomou aquela pista.
De
repente, a voz ao seu lado disse aos sussurros:
- Você ainda não leu aquele livro, meu amor...
Josh, pasmo, virou
lentamente sua cabeça.
Rose o
atacou com os dentes.
De
longe, podia-se avistar o sangue espirrando sobre as vidraças do automóvel,
junto dos berros ensurdecedores de Josh.
O
demônio estava a solto.
Mas até
quando?
Fim.
Valdir Luciano, 2014
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